THE BLACK PEOPLE CULTURES

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Tuesday, April 25, 2017

A LINGUAGEM SIMBOLICA DA CULTURA COMO “LUGAR TEOLÓGICO”


* Indication of books about this matter for personal deepening:
. BIBLIA SAGRADA
. BOFF, C. Teoria do método teológico. 3. ed. São Paulo: Vozes, 1999.
. CNBB. Nova Evangelização, promoção humana e cultura cristãPetrópolis: Vozes, 1993. (Santo Domingo – SD)
. IMBAMBA, José Manuel. Uma nova cultura para mulheres e homens novos. Luanda: Paulinas, 2003.
. QUEIRUGA, A. T. O diálogo das religiões. São Paulo: Paulus, 1997, p. 16.
. SUSIN, L. C. Os salmos na vida cristã. Porto Alegre: ESTEF São Lourenço de Brindes, 1976.
. ZILLES, U. Significação dos símbolos cristãos. 6. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.
         
        Como havíamos dito, o ser humano em seu fazer cultural é criativo, mas também consciente de que há uma força onipotente que o faz ser assim e, ao mesmo tempo, o supera. Esta força é o próprio Deus fazendo-se presente na ação humana, tornando a cultura um ‘lugar teológico’, ou seja, Deus se manifesta na e através da cultura. Mas Deus tem sua própria linguagem que pouco a pouco pode ser assimilada pelo ser humano na medida em que este se deixa conduzir pela inspiração divina tornando-se instrumento do querer e do agir de Deus. A linguagem de Deus passa pelos elementos da cultura. Portanto, procuremos entender como se dá este processo através de um breve estudo sobre linguagem simbólica da cultura como “lugar teológico”.
A linguagem, enquanto instrumento essencial para a comunicação, é um importante meio que veicula a cultura de cada povo[1].  O documento de Santo Domingo[2] considera “a comunicação entre as pessoas um admirável elemento gerador de cultura” (SD 23). Enquanto ser cultural, o ser humano serve-se da linguagem para manifestar seu jeito de ser e de pensar.  Ela envolve todo o ser humano e, ao mesmo tempo, reflete a visão de mundo de um determinado povo.
Segundo o teólogo U. Zilles, “a linguagem está ligada à experiência. A experiência acontece num lugar e num tempo, envolve pessoas, gestos, atitudes e objetos.  Como eu vou explicar sobre o sabor da laranja para alguém que nunca teve o gosto da laranja?”[3] Dizemos, portanto, que o ser humano é um ser de linguagem pelas circunstâncias de que: fala, comunica e exterioriza o que pensa e o que experimenta. O autor J. M. Imbamba, citando J. B. Mondin, assim se expressa:
A linguagem denota a função, a capacidade de que o ser humano é naturalmente dotado (...) de exprimir-se e comunicar com os semelhantes mediante a palavra. Trata-se de uma capacidade inata que convém, do mesmo modo, a todos os seres humanos, independentemente da nação e da cultura a que pertencem[4].
           A linguagem, sendo fruto de uma época e de experiências, é algo convencionado de acordo com a caminhada e a maturidade dos grupos humanos. Valorizamos nossas experiências quando buscamos transformá-las em alguma linguagem. Este é um aspecto fundamental para que estas experiências não se percam no tempo. Trata-se de uma forma de resgatar a memória para não perder a identidade. Sobre isso afirma também o autor L. C. Susin:
A linguagem é a corporeidade específica do ser humano. É a nossa casa. ‘A linguagem é o lar do ser humano’ (Heidegger), lar que o alimenta e o torna fecundo (...) Se nossas experiências mais íntimas não se transformam em alguma linguagem, estão fadadas a se perder e a desaparecer. O que não se exterioriza não existe. Pela linguagem nós nos comunicamos, comungamos, amamos[5].
O ser humano é feito na linguagem e faz a linguagem. Quando se diz, por exemplo: “não só de pão vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4), temos a palavra como um instrumento concreto de linguagem que tem muito a ver com íntimo: da parte de Deus, esta é a sua sabedoria, traduzindo o que vem de sua mente e seu coração; é expressão de sua ternura e seu cuidado e tem uma finalidade bem concreta (esta não deve tornar a ele vazia). Da parte do ser humano, traduz o que se passa dentro dele com relação a seus sentimentos, necessidades, intenções, etc. A palavra expressa também as diversas realidades nas quais o ser humano está envolvido, sendo referência para que Deus, encarnando-se nestas mesmas realidades, comunique sua vida, convidando todos à sua intimidade[6].
         Deus usou a linguagem do amor ao criar o ser humano e de uma forma ainda mais suprema, ao assumir a condição humana enchendo-a de sentido. Falamos de uma migração divina. Assim ele se revela na história e na cultura dos homens e mulheres de todos os tempos. Mesmo através dos gestos limitados e das palavras humanas - que são muitas vezes vazias de sentido - se pode perceber a força e a grandeza divinas. Deus vem ao ser humano para fazê-lo mais humano. A linguagem usada por Deus é um convite a sair de si, pois o ser humano não se torna mais humano se permanece centrado em si mesmo.
          Como se pode perceber, fazendo referência ao mistério de Deus entendemos melhor a o ser humano e “falar de Deus, de seu mistério está a pedir uma linguagem mais sugestiva que argumentativa, mais aberta que fechada. A linguagem metafórica é, ademais, a linguagem preferida pela Bíblia”[7]. Este é um exemplo concreto de que a linguagem de Deus se expressa por linguagem humana e não há oposição entre elas. Neste sentido, é admirável a sensibilidade dos místicos que fazem uso de uma linguagem ‘repleta, ‘saturada’ de experiências imediatas, através de símbolos, predicativos, narrativas poéticas, desenhos (‘mandalas’)[8].
         Em sua dimensão cultural, a linguagem usa os símbolos como veículos por serem um fenômeno humano[9]. Recordamos que os símbolos fazem parte da riqueza do interior do ser humano, que é comunicada como expressão e produção cultural. Os símbolos, ao mesmo tempo em que expressam uma identidade, uma grande paixão, é mediador no relacionamento Deus/ser humano. Neste sentido, vemos em Jesus Cristo o símbolo por excelência por ser o ponto concreto de encontro entre Deus e a humanidade. Ele é o verdadeiro templo, o “lugar teológico por excelência. Em sua pessoa o ser humano tem garantia de encontrar-se com Deus, pois a sua paixão foi revelar plenamente o Pai[10]. Ele reúne em sua pessoa e obra o máximo que Deus quis revelar a humanidade. Tornando-se o ponto referencial da história humana (Antes de Cristo e Depois de Cristo), tudo é visto a partir dele e através de uma linguagem simbólica os fiéis cristãos alimentam a sua fé e se unem a Cristo[11].  

         Cada cultura através de suas experiências religiosas expressa uma linguagem própria no seu relacionamento com Deus. A linguagem de Deus em Jesus Cristo, longe de eliminar as outras linguagens, nos permite considerar com respeito a rica linguagem simbólica do budismo ou da tradição hinduísta, admirar a grandeza de Zaratustra e também, em tantos aspectos, o Islamismo. As demais expressões religiosas estão a expressar as diversas formas de respostas humanas, no contexto das diferentes culturas ou formas de vida humana, à mesma realidade divina[12] que foi revelada por Jesus Cristo como Pai que sabe muito bem o que se passa com seus filhos e filhas. A experiência do Sagrado, para um povo, vai depender muito de sua realidade histórica, sociológica, enfim, de sua cosmovisão. Será mais intensa quanto maiores forem as suas buscas; será melhor vivenciado o sentido da Revelação se, por trás do elemento natural e da abundância de dons, conseguirem descobrir o Ser que os concede e os faz acontecer ininterruptamente.

Author: Josuel Degaaxé dos Santos Boaventura PSDP - Fr Ndega
Theological review: Dr. Fr Luis Carlos Susin



[1] Cf. IMBAMBA, José Manuel. Op. cit., p. 138.
[2] Trata-se do documento conclusivo da IV Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho ocorrida em outubro de 1992 na República Dominicana.
[3] Frase do professor e teólogo U. Zilles durante as aulas de Teologia e Linguagem no Mestrado em Teologia Sistemática da Faculdade de Teologia da PUCRS, em 2011.
[4] MONDIN, João Battista. Apud IMBAMBA, José Manuel. Op. cit., p. 40.
[5] SUSIN, Luiz Carlos. Op. cit., p. 14s.
[6] Cf. Ibid., p. 15.
[7] Cf. BOFF, C. op. cit., p. 61, apud HACKMANN, G. L. B. Método teológico in Exame de universa theologia. Mestrado de teologia – PUCRS.
[8] Cf. SUSIN, Luiz Carlos. Op. cit., p. 12.
[9] Cf. ZILLES, Urbano. Significação dos símbolos cristãos. p. 11. O autor L. C. Susin afirma que “o símbolo é a linguagem própria do ser humano porque é aberto a ‘algo mais’, transcende a si mesmo”. (SUSIN, Luiz Carlos. Op. cit., p. 83).
[10] Cf. ZILLES, Urbano. Op. cit., p. 14.
[11] Cf. Ibid., p. 14.
[12] Cf. QUEIRUGA, A. T. op. cit., p. 16s.

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