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Até aqui temos refletido que
Deus se revela sempre em todas as partes e a todas as pessoas, culturas e
religiões, na generosidade livre e incondicional de um amor sempre ativo e
dinâmico, que quer dar-se plenamente. Se há limites, não vem de uma reserva de
Deus - pois seu desejo é sempre de revelar-se ao máximo - mas deve-se à
incapacidade e ao pecado humano que freiam, deformam ou não reconhecem a
manifestação divina. A partir deste item, queremos voltar a nossa atenção ao
caminho peculiar da revelação bíblica. Faremos alguma referência ao método ‘maiêutica histórica’[1],
considerando que a Bíblia como Palavra revelada, nasce a partir da experiência
de fé de um povo que descobre a presença constante de Deus no seu quotidiano e,
atento às inspirações deste Deus, transforma em escritura aquilo que Ele tenta falar a todos. Esta mesma Palavra,
como uma parteira, nos ajuda a “dar à
luz a realidade mais íntima e profunda que já somos e na qual vivemos graças à
livre iniciativa do Amor que nos cria e nos salva”[2]. No modo de dizer do autor Sergio
Quinzio, “as Escrituras são o horizonte que nos contém”[3].
No início deste nosso estudo,
vale a pena recordar algumas definições clássicas que nos ajudam sintetizar a
experiência bíblica, por exemplo: “História de Deus com a humanidade”; “Deus caminha
com o seu povo”; “Experiência de fé de um povo”; “Carta de amor de Deus para o
seu povo”, etc. São definições que têm ajudado muito na experiência de fé das
nossas comunidades que buscam na bíblia inspiração e motivação para sua
caminhada. Estas expressões trazem uma imagem muito positiva de Deus: um Deus
acessível, um Deus que fala e que também escuta, um Deus companheiro, um Deus
presente no quotidiano de nossas vidas. O Deus bíblico é de fato o Deus da palavra.
A Palavra não está com Deus como um amigo ao lado do outro, mas como o nosso
pensamento ao nosso espírito. Por meio desta Palavra o mundo inteiro foi
criado. A partir daí se fala da possibilidade de o mundo ser uma palavra de
Deus porque existe a partir da Palavra e é habitado pela Palavra[4].
Diante de algumas posturas e
afirmações ainda presentes em nossos dias, é importante que nos perguntemos: teria
mesmo Deus ditado tudo o que está escrito nas Escrituras? Será que alguém
escrevia enquanto ele falava? Podemos atribuir a Deus os absurdos das guerras e
violência contra as pessoas? A experiência vivida por Jesus de Nazaré nos diz que
não[5].
Aquilo que realmente pode ser atribuído a Deus, com alguma exceção, era
experimentado já no seio familiar, com uma decisiva participação materna, bem
antes de qualquer influência escolar, como expressa muito bem Sergio Quinzio: “‘Os
ensinamentos da tua mãe’ (Prov. 1, 8), que de boca em boca descende do
Altíssimo, era a linguagem de todos”[6].
Esse mesmo autor mais adiante, falando da Biblia como ‘O Livro’, afirma que o modo
adequado para lê-lo é com “os olhos do antigo israelita, para o qual as
Escrituras era a linguagem materna”[7].
Mas o nosso objetivo aqui não
é entrar em pormenores exegéticos e históricos dos eventos apresentados nos
livros sagrados, mas refletir sobre a dinâmica do processo revelador que vai
“tomando corpo” de forma magnifica a partir da experiência de fé de um povo. No
passado a ideia que se tinha era que houve uma intervenção direta de Deus na
Escritura de forma a afirmar que Ele seria o próprio autor e o ser humano era
apenas instrumento e mediador. Com o passar do tempo e amadurecimento nos
Concílios, admitiu-se que o ser humano é coautor e que a revelação não é a
doutrina em si, mas a fonte, a iluminação para que os profetas e apóstolos
pudessem perceber a verdade, aderir a ela e comunica-la[8].
A Revelação, como é
apresentada na Bíblia, tem como finalidade estabelecer uma relação de amizade entre
Deus e o ser humano, que é chamado a partir de sua própria experiência (cf. DV
2). Neste sentido, é bem original e única, segundo o que afirma Waldomiro
Otavio Piazza: “O Deus da Bíblia é um Deus ‘vivo’, isto é: consciente de sua
realidade pessoal, porta-se perante o homem com a liberdade de um Criador
(transcendentalismo) e com o interesse de um Pai (e até de um esposo, conforme
o profeta Oséias)”[9]. Em outras palavras,
trata-se de um Deus que não somente cria, mas que cuida da obra criada. Assim
ele se entretém com o ser humano para chama-lo à comunhão consigo e nela o
receber (cf. DV 2). Como se trata de um chamado, permanece sempre espaço para o
uso da liberdade na resposta. De fato, trata-se de um encontro de duas
liberdades. Não existe “vida” fora desta comunhão.
A experiência concreta é muito valorizada,
pois é através dela que o ser humano capta a presença reveladora de Deus,
comprometendo-se com ela. Com isso, emerge uma nova compreensão, que parte da
experiência para a teoria, do teologal para a teologia. Não se podia continuar
aceitando uma concepção acrítica, quase ‘mitológica’, da revelação como um
ditado que cai pronto diretamente do céu sem permitir uma autêntica experiência
da própria revelação[10].
Isso não desmerece a iniciativa divina[11]
no processo revelador, mas reconhece uma participação ativa do ser humano[12],
isto é, o ser humano não é um expectador neste processo. Deus está perto e se
faz encontrar, mas o ser humano deve busca-lo (cf. Is 55, 6). Comentando o
caráter inovador da Dei Verbum, o
autor Pedro Lima Vasconcellos afirma:
Deus se revela, no
entendimento da Dei Verbum, não à margem da história humana, mas no interior
dela (...) A história humana é o lugar da revelação divina de forma permanente.
Não há outro modo de Deus de se comunicar à humanidade, senão por dentro da
história humana, mergulhado nela. E disso a Sagrada Escritura é testemunha.
Essa compreensão de revelação na história humana, de Deus fazendo história na
história humana, é algo que foi absolutamente revolucionário[13].
Como diz o autor acima, a
Sagrada Escritura testemunha um “mergulho” de Deus na história humana. E para
ser ainda mais concreto, como veremos mais adiante, o que marca o dinamismo de
toda a revelação bíblica é o amor total ‘manifestado em Cristo’. Nele, o
próprio Deus ama e suscita amor, acolhendo a todas as pessoas, sem
discriminação de nenhum tipo; perdoa sem impor condições ou penas e não julga
nem condena; como “Pai/Mãe”, espera de cada pessoa um amor gratuito para com
ele e amor serviçal aos demais irmãos e irmãs[14].
Portanto, da ‘libertação’ através de Moisés - como experiência fundante - ao Abbá de Cristo, como experiência
culminante, corre um fio de amor incondicional[15],
incomparável em sua autenticidade, que caracteriza toda a história bíblica. Assim,
“a Escritura é a linha de crescimento ao longo da qual Deus manifesta em
plenitude (...) a verdade que faz o seu povo viver”[16].
Nesta perspectiva, torna-se referência em nossa reflexão uma frase que nem
sempre é percebida: “Deus quer que todas as pessoas se salvem e cheguem ao
conhecimento da verdade” (1Tm 2, 4)[17].
Segundo o decreto Ad Gentes, aqui
está a razão de toda a atividade missionaria da Igreja (cf. AG 7), entendendo-a
“não por proselitismo, mas por atração”, que é uma obra causada pela força do
evangelho.
O que hoje chamamos
de ‘revelação’, aplicando-o ao conjunto do que aparece na Bíblia, é um conceito
derivado, elaborado a posteriori,
pois o israelita não vivia envolvido numa espécie de luz de revelação, que “o
banhasse todo”. Vivia, isso sim, como os demais povos a sua volta, num ambiente
impregnado de religiosidade, sem a clara distinção entre o sagrado e o profano,
conforme a compreensão moderna. Quem se aproxima com seriedade do Antigo
Testamento, percebe que tudo se move num pano de fundo religioso idêntico ao
dos vizinhos. A revelação na Bíblia refere-se não a um fato ou acontecimento em
si, mas a diversos fatos e acontecimentos nos quais o ser humano bíblico
reconhece a presença e a vontade divinas[18].
“Toda a Bíblia é
construída por sucessivas interpretações de revelações antecedentes. Existem
diversos kairos, através dos quais nos diferentes tempos é escrita a palavra de
Deus e existem diversos kairos através dos quais nos diferentes tempos é lida a
palavra de Deus”[19]. O dizer de Deus está
entranhado na experiência de uma palavra viva. A centralidade da Palavra vai
determinando a história humana e os acontecimentos naturais[20].
A própria revelação vai se identificar com sua expressão nas palavras dos
livros sagrados. Aprendê-los, estudá-los e comentá-los é entrar em contato com
a revelação[21].
A partir daí, surgem
diversas concepções de revelação, divergindo no seu ponto de partida, mas
tentando convergir no essencial. As mais conhecidas são a clássica e a moderna. A concepção clássica acentua o extrinsecismo, cuja característica é
conceber a revelação como ‘comunicação’ de algo que estava oculto, ou seja,
algo externo ao sujeito. Já a concepção moderna acentua o intrinsecismo, cuja característica é conceber a revelação como
presença imediata do revelado na experiência humana, ou seja, o revelado é
interno ou íntimo ao sujeito[22].
Buscando um equilíbrio entre essas duas posições, reconhecemos a ação da graça
divina no coração do ser humano e ao mesmo tempo a descoberta que este faz do
seu “ser-a-partir-de-Deus-no-mundo”[23].
Esse processo é conhecido como ‘maiêutica
histórica’[24]:
A
maiêutica histórica, ao apoiar-se na concepção concreta da realidade humana a
cuja definição pertence seu estar fundada em Deus - com sua presença salvífica e reveladora –
permite manter o equilíbrio sem perder a riqueza. Salva o intrinsecismo da
revelação e com ela a possibilidade de sua adequada apropriação humana, visto
que a Palavra faz as vezes de parteira para que o ouvinte perceba por si mesmo
a revelação. Mas mantém a total gratuidade da iniciativa divina, visto que o
nascimento dessa palavra do mediador – ‘externa’ para o ouvinte – somente é
possível e tem sentido na qualidade de captação do que Deus em seu amor quer
livremente manifestar e, de fato, está manifestando a todos[25].
A revelação como maiêutica
permite considerar que o processo revelador não se trata de algo arbitrário ou
alienante. A ação criadora e salvífica de Deus, anterior a toda notícia e a
toda opção, sempre esteve modelando a intimidade de todo homem e mulher, chamando-os
ao seu descobrimento e convidando-os à aceitação[26].
Deus, em outras palavras, está “pressionando” o espírito humano com seu amor
para que cada homem e mulher possam descobri-lo. Dizemos com o autor Bruno
Forte que Deus é “o Eterno que há tempo para o ser humano”[27].
O que falta nunca é a “palavra” de Deus, mas a vontade humana de ‘abrir a
janela’ ou aguçar os ouvidos. “Como Sócrates, o profeta (...) não ‘coloca’ em
seus ouvintes algo externo ou que lhe seja alheio, mas os ajuda a dar-se conta,
a ‘dar à luz’ – ‘maiêutica’ é a arte da parteira – aquilo que eles ou elas já
são em sua realidade mais íntima, a partir da presença viva e atuante de Deus
na criação e na história”[28].
Reafirmamos que a Palavra
bíblica - enquanto maiêutica histórica - demonstra que Deus tem se revelado
continuamente, solicitando aceitação por parte da consciência humana. O Documento
Final do último Sínodo dos bispos sobre os jovens afirma que Deus é presente na
consciência e neste “núcleo secreto e sacrário do ser humano” (cf. GS 16) faz
ressoar a sua voz. Por isso a consciência se torna um lugar privilegiado de
encontro com Deus e de intimidade especial com ele (cf. Doc. Sínodo, 107). Esse
Deus que fala especialmente na intimidade, bate à porta com amor e espera ser
acolhido, como nos diz o Livro do Apocalipse: “Veja que estou à porta e bato;
se alguém ouvir minha voz e abrir, entrarei...” (Ap 3,20).
Quando a descoberta acontece,
é sempre a descoberta de um Deus que estava ali tentando fazer-se sentir
através da ambiguidade da história. Sobre isso, é bom recordar a experiência de
Jacó: “Ora, Javé estava aqui e eu não sabia!” (Gn 28,16). Neste caso, o profeta
é alguém que descobre a presença na qual todos já estão vivendo e mesmo, de
algum modo, pressentindo[29].
Assim, todos, profeta e ouvintes, sabem que todo o processo – que compreende a descoberta
originária e a aceitação comunitária – acontece e é possível graças ao próprio
Deus que na intimidade do ser humano se faz sentir, conforme aquilo que os
samaritanos dizem à mulher: “Já não acreditamos devido a tuas palavras; nós
mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo
4,42)[30].
Este aspecto da
individualidade, da intimidade é importante, mas a experiência bíblica da
revelação não pode ser reduzida somente a esta dimensão. Falando de um povo que
sabia interpretar os eventos históricos e a experiência comunitária à luz da
fé, isto é, por uma inspiração de Deus[31],
é de se pensar que também estes eventos, em um certo modo, eram portadores de
uma revelação divina. Em outras palavras, a realidade era “grávida” de Deus e
interpelava continuamente o povo:
A transferência para o Egito, a opressão, a saída
sob a liderança de Moises, a passagem pelo deserto. Assim, o povo aprende a
lutar, a observar e a refletir sobre tudo o que ocorre. Vão descobrindo a mão
de Deus em tudo isso e expressam a sua fé nas celebrações festivas, nos cantos
e orações. Narram de pais para filhos as grandes obras de Deus[32].
O autor Carlos Mesters faz
referência a uma grande descoberta, que não acontece por parte de uma pessoa
somente, mas de todo o povo. Isso não quer dizer que o povo conseguia dar este
passo sozinho. Ele sempre precisou da contribuição dada por pessoas que eram
mais atentas e sensíveis à inspiração divina e mesmo por isso eram capazes de interpretar
e guiar. Neste sentido, os profetas “vão ajudar o povo a refletir melhor e a
compreender o que Deus espera. Vão ajudar o povo a viver melhor, a celebrar, a
lutar, a não perder a esperança”[33]. A Escritura está cheia de
fatos que comprovam que Deus sempre se serviu de mediações (sonho, liturgia, quotidiano,
pessoas, invasões, etc.) para revelar alguma coisa a alguém o a todo o povo.
Podemos então falar de uma constante sintonia entre experiência individual e
interação comunitária (e com a realidade) para poder capitar a revelação divina.
Esta realidade nos faz
recordar um dos discursos de Papa Francisco aos jovens em preparação ao Sínodo
de 2018. Ele afirmou que “Deus fala na intimidade, mas também na relação, na caminhada
e na relação com os outros”. E continuando, concluía com este apelo: buscai a
Deus na oração, buscai-o no diálogo com os outros. Buscai-o sempre em
movimento, buscai-o na caminhada”[34].
Estas realidades, isto é, caminhada e alteridade, como aspectos importantes da
experiência humana, são características fundamentais do processo revelador, que
o povo da bíblia procurava guardar no coração (cf. Lc 2, 51) como “lugares
teológicos”, onde buscavam sempre uma palavra inspiradora de Deus que servia
como “luz para os seus caminhos”. É, portanto na relação Palavra-vida que vai
acontecer a revelação: aquilo que Deus inspira o povo a viver se torna texto e
esse texto se torna um colírio para se ver melhor, eliminando o véu que impede
de experimentar a presença libertadora de Deus[35].
Author: Josuel dos
Santos Boaventura PSDP - Fr Ndega
Theological
review: ThD Fr Luis Carlos Susin
[1] Esta expressão é usada pelo autor Andrés Torres Queiruga em seus
escritos. Este autor recupera o método
maiêutica da tradição socrática. Sócrates era um filósofo grego de Atenas que
viveu no período de 470 a 399 A.C. O seu método de conhecimento era baseado no
diálogo, isto é, o mestre fazia perguntas e o discípulo respondia. Sendo assim
ajudado, a aluno conseguia exprimir a verdade que estava dentro dele. Sócrates
definiu essa técnica como Mayéutica.
Esse termo vem do grego maiutiké, que
quer dizer ‘arte ou técnica da parteira’. Ele seguia o exemplo da sua mãe, que
era parteira. Ele não inculcava nos seus alunos as suas próprias ideias, mas os
ajudava a dar à luz a verdade que traziam dentro. Mayéutica, portanto, não é a arte de ensinar, mas a arte de ajudar
(cf. Wikipedia. Método socrático).
[2] TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar
a revelação, p. 19.
[3] QUINZIO, Sergio. Op. cit.,
p. 22. “A Bíblia nos revela um desígnio de Deus sobre nós, que tem a sua
culminância em uma comunicação da sua própria vida com o envio da sua Palavra
na nossa carne e do seu Espírito” (CONGAR, Ives. Op. cit., p. 20).
[4] CONGAR, Ives. Op. cit.,
p. 21.
[5] Isso não quer dizer que Deus era ausente enquanto o seu povo experimentava
tudo isso. É bom ter presente que “ao longo das Escrituras o fermento da
salvação leveda secretamente, com fadiga divina, através da dor e da morte” (QUINZIO,
Sergio. Op. cit., p. 20).
[7] QUINZIO, Sergio. Op. cit., p. 13.
[8] Cf. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar
a revelação, p. 38s. Por trás de cada ação humana expressa na bíblia tem
uma inspiração divina, que nem sempre é acolhida. Mas isso não tira da bíblia o
mérito de ser palavra de Deus, como diz o autor Settimio Cipriani: “Pelo fato
de ser inspirada, a Bíblia é autêntica ‘palavra de Deus’” (CIPRIANI, Settimio. Op.
cit., p. 9).
[9] PIAZZA, Waldomiro Otavio. Op. cit., p. 138.
[10] Cf. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar a revelação, p. 16s. “A revelação tem a ver por sua própria natureza com a
experiência humana. A revelação é uma experiência
expressa com palavras; é ação salvífica de Deus enquanto experimentada e
expressa pelo homem” (Ibid., p. 98).
[11] Queremos reafirmar que “é fundamental esta
ênfase sobre a iniciativa divina, sobre a gratuidade da sua mensagem” (TANZELLA, Giuseppe. Op.
cit., p17). Caso contrário,
perderíamos o nosso fio condutor.
[12] “Na medida em que a revelação divina é
entendida como acontecendo na história, por meio dela, no seu interior, o texto
bíblico ganha uma vida nova, pois passa a ser visto como expressão situada no
tempo, no espaço, na conjuntura dessa captação humana da revelação. O texto
bíblico ganha historicidade, ganha enraizamento na história de fé de tantas
gerações do povo de Israel e dos primeiros segmentos cristãos. Nesse sentido,
ele se torna um parâmetro para guiar a experiência histórica da fé diante dos
dilemas colocados pela realidade atual” (LIMA
VASCONCELLOS, Pedro. Op. cit., p5).
[13] LIMA VASCONCELLOS, Pedro. Op.cit.
p. 2s.
[14] Cf. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Autocompreensão
cristã: diálogo das religiões, p. 112.
[15] Nos diz o autor Sergio Quinzio que “de tempo em tempo, ao longo das
páginas da Escritura Deus é levado a sempre renovar o seu sempre traído pacto
com os seres humanos. A pluralidade de revelações no tempo é o mysterium iniquitatis, que Deus
transforma sempre de novo em felix culpa”.
(QUINZIO, Sergio. Op. cit., 33).
[16] Ibid., p. 32.
[17] Sobre este assunto, afirma a Redemptoris Missio: “O Antigo Testamento
atesta que Deus escolheu e formou para si um povo para revelar e realizar o seu
plano de amor. Mas ao mesmo tempo, Deus é criador e pai de todos os seres
humanos, de todos cuida, a todos faz chegar a sua bênção (Gen 12,3) e com todos
fez uma aliança (Gen 9,1). Israel faz a experiência de um Deus pessoal e
salvador (Dt 4, 37; 7, 6; Is 43,1) do qual se torna testemunha e porta-voz no
meio das nações. No curso da sua história Israel toma consciência que a sua eleição
tem um significado universal (Is 2,2; 25,6; 60,1; Ger 3,17; 16,19)” (RM 12).
[18] Cf. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar
a revelação, p. 27s.
[20] Aqui Deus fala e sua palavra cria (Gn 1-2) chama e elege (Gn 12),
liberta e salva (Ex 3). Esta experiência que era de um povo, amplia-se e recebe
uma interpretação universal e definitiva na pessoa de Jesus Cristo. A
comunidade vai percebendo, através de seus gestos, palavras e práticas que é
ele o Filho de Deus, revelador do projeto escatológico do Pai (cf. LIBÂNIO,
João Batista. Op. cit, p.
311).
[21] Cf. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar
a revelação, p. 33s.
[22] Cf. Ibid.,
p. 115.
[23] Ibid., p. 123.
[24] “Eis porque chamei a revelação de
“maiêutica histórica”. Maiêutica porque não introduz nada do exterior no
crente, mas o ajuda a “dar à luz” o que Deus lhes está dizendo através de sua
mais íntima e definitiva humanidade, enquanto livremente baseada, salva e
iluminada por Ele. Histórica porque essa revelação acontece – real e
objetivamente – na aceitação do ser humano que se realiza através da novidade
insuperável de uma história sempre em crescimento até aquela plenitude em que
“saberemos como somos conhecidos” (cf. 1 Cor 13, 12)” (Id. Revelação como dar-se conta de, p. 9).
[25] TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar
a revelação, p. 150s.
[26] Cf. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar
a revelação, p. 162.
[27] FORTE, Bruno. Op. cit., p. 18.
[28] TORRES QUEIRUGA, Andrés. Auto compreensão cristã, p. 18. “Definir
a revelação bíblica como uma maiêutica quer indicar que, em última instância,
também ela é ‘auto afirmativa’. Porque a palavra bíblica informa e ilumina,
porém não remete a si mesma nem a quem a pronuncia, mas faz as vezes de
‘parteira’ para que o ouvinte perceba por si mesmo a realidade que ela põe a
descoberto. De modo definitivo, a pessoa crente deve acabar dizendo como Jó:
‘Conhecia só de ouvido, mas agora viram-te meus olhos’ (Jó 42, 5), ou como os
samaritanos à sua conterrânea: ‘Já não é por causa do que tu falaste que
cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que esse é verdadeiramente o salvador
do mundo’ (Jo 4, 42) (...) a maiêutica faz o interlocutor descobrir, engendrar
ou dar à luz a verdade que leva em si mesmo” (Id., Repensar a revelação, p. 119).
[29] Cf. Id., Repensar a revelação,
p. 448.
[30] Cf. Id. Revelação como dar-se conta de. p. 9.
[32] Ibid., p. 4
[33] Ibid., p. 5
[34] Parte do discurso de Papa Francisco aos jovens em Palermo (Sicília)
por ocasião da preparação para o Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, realizado
em Roma em outubro de 2018.
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