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Vimos como é central nas culturas o senso do
sagrado e como, através da dimensão religiosa, o ser humano encontra razão e
sentido para viver. Isto é possível pelo fato de as culturas serem “lugar
teológico”, onde se pode reconhecer que Deus se revela na generosidade e, no
seu amor livre e incondicional, quer se dar plenamente. É a partir do seio “da
própria cultura, com suas inquietudes e suas contribuições, com seus sucessos e
suas desconfianças, de onde se procura compreender esse mistério humilde e
magnífico que interpretamos como revelação de Deus”[1].
Segundo o autor Bruno Forte, existem duas palavras para falar sobre este
assunto: apokalypsis e re-velatio. Uma vem
do grego e a outra, do latim. Quando dizemos Re-velar significa
“tirar o véu”. Mas esta palavra latina é composta de dois significados: um é de
tirar e o outro é de intensificar[2]. Há o que se falar, mas há
também espaços para o silêncio, para uma busca constante e sempre mais profunda,
pois “as palavras são sempre o começo, que exige um ir
além das palavras em si rumo às profundezas de Deus”[3]. Podemos dizer que a revelação de Deus intensificou ainda
mais a busca do ser humano por ele.
A
revelação é um processo dinâmico através do qual Deus se manifesta no seio das
culturas e religiões, impulsionando o ser humano para que capte sua presença. Deus ama a todos e
todas por igual e, se ama, está se revelando.
Ele não nos rouba espaço, mas conosco
age para que aconteça a história: quanto mais ele está presente, mais nos faz
ser; quanto mais acolhemos sua ação, tanto mais realizamos a nós mesmos. Ele
não anula o nosso ser, mas o leva à sua afirmação plena em Jesus Cristo, no
qual se realiza o melhor de nós. O Deus anunciado por Jesus Cristo toma a iniciativa,
tanto para conduzir-nos à dimensão do existir como para ajudar-nos em sua
realização[4].
Diante disso, cabe a todos e todas acolhermos sua iniciativa: deixar-nos
existir e salvar por Ele, aceitando sua graça e colaborando com sua ação em nós
e em todas as demais culturas e religiões.
Trata-se de reconhecer que Deus intervém na
história, facilitando o acesso do ser humano a si. Há um emigrar-se, um sair de
si a fim de estabelecer um encontro de liberdades, em que, quem sai ganhando é
o próprio ser humano, que encontra resposta adequada à pergunta sobre o sentido
de tudo e, principalmente, sobre o sentido de sua vida. A sua pergunta já é uma
fala de Deus, pois a Revelação é algo tão intersubjetivo que fica difícil saber
onde um começa e onde o outro termina[5].
No entanto, é necessário ter presente que, por ser amor e liberdade infinitos,
Deus é quem toma iniciativa em revelar-se. Faz aquilo que quer e como quer,
sendo que tudo o que faz é em favor do ser humano. Não se sente obrigado a isso
e tão pouco o ser humano o merece. É, portanto, por sua intrínseca bondade que
acontece a Revelação[6],
conforme salienta a constituição Dei Verbum, do Concílio Vaticano II:
“Aprouve a Deus,
na sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e dar a conhecer o mistério
da sua vontade (cf. Ef 1,9) (...) Em virtude desta Revelação, Deus invisível
(cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), no seu imenso amor, fala aos seres humanos como a
amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e conversa com eles (cf. Br 3,38), para os convidar
e admitir a participarem da sua comunhão” (DV 2).
No imenso universo que nos rodeia podemos
contemplar a ação de um Deus Criador, que não poupou esforços em dar contornos
de beleza a tudo o que existe[7].
Aí o ser humano consegue descobrir uma fala de Deus[8],
pois toda natureza é revelação sua. “Na medida em que algo é, está sendo
manifestação de Deus: assim como nos traços físicos de um rosto lemos
diretamente a presença do espírito que o anima, também nossos ‘sentidos’ estão
lendo nas realidades criadas a presença fundante do Criador”[9].
Que alguns a chamem “revelação natural” ou “manifestação cósmica de Deus”, a
criação – mesmo com as suas limitações - é um lugar teológico, isto é, lugar
onde Deus dá um constante testemunho de si. Os afrodescendentes a chamam de
“Santuário de Deus”.
Além deste aspecto da natureza, o autor Andrés Torres
Queiruga afirma que também a história é
criação de Deus, pois toda a energia que o ser humano emprega para
realizá-la brota constantemente do amor do Criador. Se a história tem a ver com
a liberdade humana e esta é sustentada pela ação amorosa de Deus[10],
então, a história torna-se resultado de uma ação conjunta: a do ser humano e
também a do próprio Deus, que age na e através da liberdade humana. É, portanto, no exercício autêntico
desta liberdade, que Deus se faz transparente como energia que sustenta e como
amor que atrai[11],
em vista da realização do próprio ser humano. Assim, “a revelação divina
acontece na realização humana”[12],
pois uma vez aparecida na história, a revelação torna-se também história[13].
Contudo, é necessário salientar que a revelação
de Deus, embora aconteça no mundo, jamais se identifica com ele[14].
Não se pode limitar a revelação divina à realidade ou à simples captação
humana, tão limitada. O Deus de quem estamos falando não é criação da razão humana
ou uma projeção de suas carências. “O
Deus da revelação é o Outro não reduzível à medida humana”[15]. Qualquer tentativa de demonstrá-lo será
sempre insuficiente, pois nada o pode conter e nenhuma representação humana lhe
será apropriada[16].
A revelação de Deus ao ser
humano acontece continuamente e “sempre na máxima medida que lhe é ‘possível’;
de modo que os limites da revelação histórica não se devem a uma reserva
divina, mas antes a uma incapacidade humana: a incapacidade constitutiva do seu
ser finito”[17].
Deus é infinitamente maior do que a capacidade
da inteligência humana pode abarcar e quando ela consegue perceber algo de sua
presença, é porque Ele, a partir do seu amor ativo e generoso, está ‘sempre
aí’, fazendo todo o possível para ser percebido. E o faz para todos e todas, na
mesma medida. Portanto, a total transparência da revelação é impedida pela
finitude da realidade. No entanto, descobrimos toda a realidade como
manifestação de Deus. Em meio à obscuridade, há uma ‘evidência’ da revelação no
real[18].
A partir desta ideia, Deus se dá a conhecer na sua totalidade, mas não pode ser
conhecido todo. Mas há autores que dizem que no processo revelador, Deus não se
dá a conhecer totalmente. Um destes autores é Bruno Forte. Para explicar esta
dinâmica ele usa a expressão “Deus revelado e escondido”:
Assim, o advento de Deus pôde ser pensado como
exibição sem reserva (...) Mas no princípio não foi assim: revelando-se, o
Eterno não somente se pronunciou, mas também e altamente se calou. Deus
revelado e escondido, “absconditus in
revelatione – revelatus in absconditate”, o Deus do advento é o Deus da
promessa, do Exodo e do Reino. Portanto, a sua revelação não é visão total, mas
Verbo que vem do Silêncio e a esse abre[19].
De modo total ou com reservas, o grande êxodo
que Deus realizou e realiza provoca um outro êxodo, fazendo-nos reconhecer que
a revelação é antes de tudo um movimento de Deus até nós e somente assim é
possível o nosso movimento até ele. Sobre isso o autor Carlo Dallare afirma que
“um dia poderá ser dada a nós a graça de descobrir que não somos nós a ter
alcançado Deus para conhece-lo, mas que foi ele a nos ter precedido no encontro
e a nos ter colocado a caminho”[20].
O próprio Santo Agostinho chegou a colocar na “boca” de Deus estas palavras:
“Tu não me buscarias se não já tivesse me encontrado”[21].
Esse é o caráter dinâmico que havíamos falado no início e que o autor Andrés
Torres Queiruga chama de ‘sempre aí’, que indica a presença sustentadora e a
união radical Deus-homem como raiz que alimenta e possibilita seu chegar sempre novo, vivo e histórico.
Assim, toda a realidade é vista como um gesto ativo e voluntário de Deus,
através da qual se manifesta e se revela constantemente ao ser humano[22],
‘pressionando’ com amor para ser acolhido livremente por sua criatura[23].
A evolução do mundo, o processo da história, o
crescimento individual são radicalmente sua manifestação. Quando alguém
consegue descobrir em tudo isso a ação criadora de Deus, que o sustenta para
que se realize; quando percebe aí a liberdade divina, que amorosamente vai
empurrando-o para a autenticidade e a plenitude; quando escuta aí a palavra de
amor que o chama, então está acontecendo a revelação.[24]
O ser humano faz a descoberta de Deus presente
em sua vida e na realidade, porque Deus lhe vem continuamente ao encontro. A
revelação só é realmente autêntica quando o ser humano compreende que Deus é
quem toma a iniciativa e possibilita esta descoberta. “Aí Deus vem a seu
encontro para potencializá-lo e orientá-lo, de maneira que todo o restante
fique finalizado nessa experiência, que o envolve todo como um ‘dossel
sagrado’, conferindo seu último sentido ao inteiro projeto de realização
cultural e social”[25].
Deus está “sempre aí”, ou seja, está o tempo todo se fazendo notar, em seu amor
providente e sustentador, solicitando uma resposta livre do ser humano. A
presença divina é transcendente, mas, ao mesmo tempo está aí para todos. Não
chega de fora e não se impõe, apenas se oferece para ser descoberta e acolhida.
Author: Josuel
dos Santos Boaventura PSDP - Fr Ndega
Theological review: ThD Fr Luis Carlos Susin
[1] TORRES QUEIRUGA, A. Repensar
a revelação. p. 19s.
[2] Cf. FORTE B. Parola e silenzio nella
riflessione teologica. p. 9. Em um outro artigo
esse autor diz: “A revelação do Deus que
vem tirar o véu que esconde, mas é também um esconder mais forte, é comunicação
de si que inseparavelmente se oferece como um ‘velar’ novamente” (Id. Teologia fra parola di Dio… p. 5).
[3] Id. Per
dire Dio ai cercatori di Dio. p. 2.
[4] Cf. TORRES QUEIRUGA, A. El Dios de
Jesús., p. 4s.
[5] Cf. PIAZZA, W. O. Teologia
fundamental para leigos, p. 139, apud BOAVENTURA, J. dos S. Op. cit., p. 385.
[6] Cf. TORRES QUEIRUGA, A. Repensar a revelação, p. 447.
[7] Mesmo que exista a tendência moderna de conceber a criação como um
processo humano, histórico e criativo, o que leva à crença apenas no
‘progresso’. A natureza é, neste sentido, considerada objeto de manipulação,
exploração e domínio. Em nome do progresso, estabelece-se uma relação muito
utilitarista, em que um é sujeito e outro objeto. (cf. SUSIN, L. C. Op. cit., p. 11-13).
[8] “Pois, sem o Criador, a criatura não
subsiste. Ademais, todos os crentes, de qualquer religião, sempre souberam
ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das criaturas” (GS 36).
[9] TORRES QUEIRUGA, A. Repensar
a revelação, p. 449. “Não sendo movido por necessidade e carência, Deus
cria unicamente por amor: cria homens e mulheres, como filhos e filhas, não
‘para a própria glória e serviço’, mas para que alcancem a máxima realização
possível. Por isso, seu interesse decisivo é manifestar-se a eles e ajuda-los,
revelar-se a eles e salvá-los. Existe um pai ou mãe decente que não procure o
mesmo para seus filhos? Poderia esquecê-los uma mãe humana, mas Deus jamais (Is
49, 95)” (Id. Repensar o pluralismo,
p. 111).
[10] É o que acontece, por exemplo, com a
história bíblica, cuja intenção é “evidenciar a ação de Deus na própria
história da ação humana” (Ibid., p.
188). “(...) é, mesmo quando disso não tem
consciência, como que conduzido pela mão de Deus, o qual sustenta todas as
coisas e as faz ser o que são” (GS 36).
[11] Cf. TORRES QUEIRUGA, A. Repensar
a revelação, p. 186.
[12] Ibid., p. 163.
[13] Cf. Ibid., p. 190.
[14] Cf. Ibid., p. 181. Está de acordo com esta
idéia o autor Francesco Consentino quando diz: “(…) Um Deus que se revela nos
fragmentos da historia, sem nunca se transformar em um puro conhecimento
científico e objetivo” (CONSENTINO, F. Op.
cit. p. 14).
[15] FORTE, B. A teologia fra parole di Dio e parole degli uomini. p. 6.
[16] CONSENTINO, F. Op. cit. p. 13s. Veja aqui a idéia completa
deste autor: “O cristianismo mesmo na sua essência, portanto, tem seu fervor la
onde o ser humano compreende a sua vida como movimento de superação constante
ao encontro de um Deus que aparece e aparecerá sempre como desconhecido e
estranho e que não poderá nunca se reduzir nem à satisfação das próprias
necessidades nem à representação humana”.
[17] TORRES QUEIRUGA, A. Repensar a revelação, p. 445. A este respeito, ele escreve também
na obra Autocompreensão cristã, p. 20.
Esta ideia é reforçada por Walter Kasper: “O mistério divino se manifesta
dentro de nosso mundo. Podemos encontrá-lo na natureza, que enquanto criação de
Deus nos remete ao Criador; no mistério que se revela no homem mesmo; e na
história, que vive de uma esperança que significa algo mais que a história”
(KASPER, W. apud TORRES QUEIRUGA, A. Repensar
a revelação, p. 173).
[18] Cf. TORRES QUEIRUGA, A. Repensar a revelação, p. 449. “O
original de Karl Rahner foi acentuar a implicação da subjetividade
transcendental no processo da revelação. Segundo ele todo ser humano – e todo o
ser humano – está impregnado pela presença da revelação. É constitutiva do
homem a vocação para ser ‘ouvinte da Palavra’; o próprio movimento de sua
existência, enquanto buscando realizar-se em sua verdade decisiva, já é
‘revelação transcendental’. A história das religiões e sobretudo a história
bíblica enquanto determina definitivamente por Cristo são sua expressão reflexa
e concreta: são a revelação propriamente dita, a ‘revelação categorial” (Ibid.,
p. 95).
[19] FORTE, B. Teologia fra parola di Dio e parola degli uomini. p. 5
[20] DALLARE, C. Op. cit., p. 13
[21] HIPONA, St. A. apud DALLARE, C. Op.
cit., p. 13.
[22] Cf. TORRES QUEIRUGA, A. Repensar
a revelação. p. 210.
[23] Cf. Id. Autocompreensão
cristã. p. 75.
[24] Id. Repensar a revelação.
p. 210.
[25] Ibid., p. 231.
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